Eleitos, mas Livres (Título do original: Chosen but Free – Editora Vida, 2005).
Em Eleitos, mas Livres, Norman Geisler traz
uma visão equilibrada quanto ao exame da soberania divina em relação à vontade
humana (livre-arbítrio). De início já demonstra aspectos que trazem à mente a
soberania de Deus:
*Ele é “antes de
todas as coisas”, principalmente antes do tempo, já que este veio com o
universo,
*Ele é o Criador
de todas as coisas.
*Ele é
sustentador de todas as coisas, i.e, além de criar, ele mantém os seres vivos
que vivem por Ele,
*Ele é além da
criação e sobre toda criação,
*Ele é
conhecedor de tudo, e,
*Ele faz todas
as coisas conforme o planejado.
Geisler apresenta em Eleitos, mas livres os dois lados da
moeda: a soberania divina e a responsabilidade humana, e isso de forma
moderada. O livro deixa, com clarividência, que Deus é responsável pelo
livre-arbítrio que nos é dado, mas, não pelo que fazemos com ele. Há clareza
nas linhas do livro que o homem é induzido (não forçado) a fazer o mal, pecando
deliberadamente. Segundo o autor, existe diferença entre a liberdade e atos de
liberdade e, os homens livres são responsáveis pelas suas escolhas.
Norman Geisler nos
chama à razão quando dá a entender que “existimos antes de agir”, somos
influenciados pelas ações e não controlados por elas; temos a tendência que não
desculpa a ação; podemos ser até afetados, forçados, não. A nossa tendência é
seguir a natureza mau, porém, com a intervenção divina muda-se a situação.
Temos tendência, necessidade não! Desejamos pecar, decidimos pecar, mas,
segundo Geisler, agiremos contrário ao desejo forte, pois, é possível fazer o
que Deus manda. Os humanos de todas as épocas tiveram a liberdade de agir,
foram livres para escolher. Nós também temos, e, através dessas escolhas, recebemos
a retribuição em forma de louvor ou acusação. Transgredir, desobedecer e/ou
pecar é uma questão de escolha. Geisler mostra que o ser humano não é depravado
de forma total/completa, pois, a imagem de Deus em Adão foi manchada, não
apagada, i.e., a imagem de Deus ainda está em nós, porém, nossas escolhas nos
deixa na ignorância, que é o primeiro passo para entrarmos na depravação e,
continuando nisso, permaneceremos na escravidão. Os salvos e não salvos,
segundo o autor, tem livre escolha e podem crer ou não, e, crendo, escolherão, escolhendo,
se responsabilizarão. Por exemplo: em resposta aos milagres de Jesus Cristo,
muitos não creram Nele. O homem é responsável pelo “crer” e pelo “pecar” (pois,
o responsável pelo pecado não é o autor da santidade).
Em Eleitos, mas Livres observamos
que o extremismo tanto dos calvinistas como dos arminianos trabalha com
balanças injustas: “... os calvinistas extremados têm sacrificado a
responsabilidade humana a fim de preservar a soberania divina (...) os
arminianos têm sacrificado a soberania divina a fim de sustentar o
livre-arbítrio humano” (página 41). Norman Geisler vê, nas passagens bíblicas,
citadas por ambas as correntes, um consenso entre a predestinação e o
livre-arbítrio. Referências mostram o “trabalhar juntas” das duas vertentes:
soberania divina e responsabilidade humana estão emparelhadas nas Escrituras
Sagradas, em um mesmo contexto.
De uma forma moderada
Geisler responde a certas perguntas: a salvação depende da fé? Qual a condição
do recebedor da salvação? Qual a diferença entre escolha e eleição? A revelação
divina é para todos ou somente para alguns? Judas era um eleito ou um traidor? Judas
foi um escolhido, mas, segundo o autor, não foi um eleito, pois, escolha não é
eleição (a eleição é com base na crença em Jesus Cristo pelo Espírito Santo).
Existe relevante diferença (e é de comum acordo) entre “estar na Igreja” e
“pertencer a Igreja”. Todos podem chegar ao conhecimento da verdade, pois a
expiação se aplica a uns, mas, sua extensão é para todos; se aplica aos salvos,
mas sua proporção é para todos.
Para Geisler “... a graça
é somente irresistível ao que está desejoso dela, não ao relutante...” e, “Deus
derrama a graça salvadora irresistível somente sobre os que a desejam, não nos
relutantes.” (página 104).
Existe predestinação
para a condenação? Geisler mostra que Deus não “... predestina certas pessoas
para o inferno, à parte da própria livre-escolha delas” (página 106), pois,
Deus espera vasos de ira para o arrependimento. Tendo em vista que a condição
para se receber a salvação é o arrependimento, “o coração não arrependido pode
resistir à vontade de Deus nesse sentido.” (página 110). A doação (de Deus) é
incondicional, a recepção, condicional.
Para finalizar, Geisler
deixa evidente que “a Bíblia é um livro equilibrado. Ela afirma tanto a
soberania de Deus... quanto a livre-escolha do ser humano” e, “que não há
contradição alguma na cooperação entre a soberania de Deus e o livre-arbítrio.
Podemos estar certo de que 1) Deus está no controle e que 2) recebemos a
capacidade de escolher. Somos verdadeiramente eleitos, mas livres.” (página
168).
Por Fernando José.
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