Pois
se tudo o que acontece no mundo é por acaso, como explicar o cumprimento de
todas essas profecias?
(Flavio
Josefo)
A
visão do carneiro e do bode do capítulo 8 de Daniel é considerada como uma
confirmação dos capítulos 2 e 7. O Comentário Bíblico Moody deixa evidente que
esse trecho do livro – ou melhor, a visão – veio num momento propício: “... veio
quando os judeus exilados precisavam de encorajamento para crer que Deus
realmente os restaurada, como tinha prometido...”. Deus fez uma promessa (tida
como alívio) concernente a esse momento, em Jeremias 25.11, 12:
E toda esta
terra virá a ser um deserto e um espanto; e estas nações servirão ao rei de Babilônia
setenta anos. Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os setenta anos,
visitarei o rei de babilônia, e esta nação, diz o SENHOR, castigando a sua iniquidade,
e a da terra dos caldeus; farei deles ruínas perpétuas.
Tomando por base algumas obras de comentários
referentes ao Livro de Daniel, fiz um breve esboço do capítulo 8:
v. 2 – Daniel estava em Susã apenas em visão. Ester
estava literalmente (Et 1.2)
v. 4 - "... e nenhum dos animais lhe podia
resistir;" - As forças de Dario que se engrandecia e que ficaram lembradas
na História.
v. 3 - Dois
chifres: Império Medo-Persa (O Peito e os Braços do capítulo 2).
vv. 5-8: Os exércitos de Alexandre e,
posteriormente, seus sucessores militares.
vv.
9-14 – o poderio daquele que era considerado como magnífico e louco ao mesmo
tempo : Antíoco. Com a devida interpretação nos versículos 23-26.
vv. 15-26 – Gabriel entra no cenário e transmite as
interpretações.
Sobre os versos 5-8 Antônio Neves Mesquita relata:
Depois surge um bode
(Alexandre), que vinha do Ocidente (v. 5). Voando, não tocava o chão, tal a
velocidade com que vinha. Atirou-se contra o carneiro (Pérsia), feriu-o e
quebrou-lhe um chifre. Lançou-o por terra, pisou-o debaixo das patas até o
destruir. As conquistas deste bode (Alexandre) foram fulminantes e não havia
exércitos que lhe pudessem resistir. Os amantes da história antiga podem
confirmar a descrição de Daniel. Alexandre foi discípulo do grande filósofo
Aristóteles, de quem recebeu não apenas a instrução filosófica, mas o modo de
vencer os inimigos. Conta-se que ele, quando freqüentava uma escola na Grécia
(era macedônio), costumava dizer que um dia se vingaria das agressões dos
persas, que, sendo senhores do mundo, ainda desejavam dominar a Grécia. As
célebres batalhas do passo de Dardanelos e a batalha naval de Salamina falam
bem alto do tipo de guerra que os persas, de 'tão longe, iam fazer à Grécia. A
grande batalha naval de Salamina deu-se quando Xerxes, o Assuero, marido de
Ester, estava no governo. Tão logo Alexandre pôde convencer os gregos de que
era tempo de se desforrarem dos persas, reuniu tudo que tinha, e com uma
coragem indómita atirou-se pelo Oriente, nada estorvando a sua indómita
coragem. Conta a história que havia numa cidade oriental uma corda trançada e
que aquele que fosse capaz de desfazer os nós seria o dominador de todo o
Oriente. Alexandre não perdeu tempo. Meteu a espada no "nó górdio", e
cortou-o. Dali em diante nada lhe resistia. Por isso, Daniel vê este bode como que
voando rumo ao Oriente, tal a pressa com que se dispunha a conquistar a velha
Pérsia. Alexandre ficou imortalizado na história pela maneira como tratou o
último rei dos persas, por nome Dario, tomando-lhe as mulheres e filhas, e
colocando-as numa tenda com guardas para as protegerem e com ordem de matar
quem quer que se aproximasse delas. Foi um guerreiro generoso que se contentava
em vencer o grande Império Persa, mas respeitava as mulheres do rei vencido.
Infelizmente, Alexandre se engrandeceu, como diz o profeta (v. 8), mas o chifre
grande quebrou-se, saindo em seu lugar quatro chifres menores. Depois de
conquistar o Império Persa, estabeleceu o seu quartel general em Babilônia, e
lá, ou pelas orgias ou por outros motivos que a história ignora, morreu dez
anos depois da vitória. Compunham o seu estado-maior quatro generais, que na
visão são representados pelas quatro pontas pequenas. Morto o chefe, todos
queriam tomar lugar, mas nenhum contava com o apoio militar para isso. Depois
de muitas lutas, decidiram dividir em quatro partes o império conquistado por
Alexandre - Macedônia, Trácia, Síria e Egito - cabendo cada uma a um general.
Destas quatro partes, as que mais diretamente interessaram à história dos
israelitas foram o Egito, que coube a Ptolomeu, e a Síria, que coube a Seleuco.
Os outros dois, ou por estarem distantes ou por outros motivos, não
interessaram a história. Mesmo ficando a Síria ao norte e o Egito ao sul, era
natural que nenhum outro se metesse no meio. De um dos quatro chifres saiu um
notável, de pequeno que era, tornou-se grande em poder (Antíoco).
Antônio Neves Mesquita ainda nos concede uma visão
panorâmica sobre os Ptolomeus e os Selêucidas:
Ptolomeu I, sabendo
que Seleuco tinha as suas vistas voltadas para a Palestina, adiantou-se a
qualquer tentativa do seu rival sírio, e, num sábado, invadiu a Palestina, onde
foi recebido sem hostilidade. Ele, por sua vez, também não cometeu qualquer
brutalidade, convidando, até os judeus que desejassem, a ir para o Egito, onde
teriam tudo que quisessem. Lá já moravam muitos que tinham ido nos dias de
Jeremias, e atualmente estavam prósperos e bem situados. Muitos foram e lá
ficaram. Ptolomeu II, o Filadelfo (285 a.C.), filho de Ptolomeu I, continuou a
boa política de seu pai, e os judeus continuaram a emigrar para o sul. Foi
nesta quadra que se deu a Versão conhecida como a Versão dos Setenta, cuja
história, por ser longa, deixamos de mencionar. A ela nos temos referido em
muitos dos nossos livros. Ptolomeu III, o Evergetes, continuou a política de
seus antepassados, favorecendo em tudo os judeus, tanto os que estavam na
Palestina como os que tinham ido para o Egito. O seu sucessor, Ptolomeu IV, o
Filopator, foi obrigado a entrarem luta com Seleuco da Síria, e aqui começa a
odisséia dos judeus. Vencendo os sírios, voltou para o Egito, e na descida
parou em Jerusalém e quis entrar no templo para ver o que estava lá dentro. Os
judeus em coro se levantaram contra ele, fazendo-o desistir, mas ao mesmo tempo
criando uma animosidade que não existia antes.
Antíoco I e Antíoco
II não molestaram os judeus nem se meteram na Palestina, mas Antíoco III era
megalomaníaco e ambicioso. Invadiu a Palestina, e os judeus, que já estavam
desavindos com os Ptolomeus, receberam-no como libertador, mal sabendo o que
estava atrás de tudo. Para apaziguar os Ptolomeus deu a sua filha Cleópatra em
casamento a Antíoco Epifânio, prometendo-lhe como dote a Palestina, Celsíria e
a Fenícia, mas nada disso cumpriu. Durante o seu domínio na Palestina cometeu
toda sorte de desatinos, inclusive a de entrar violentamente no templo e
oferecer uma porca no altar dos sacrifícios, com o que cessaram os sacrifícios
do templo, por ter sido profanado. Como nos informam os versos 9 e 10, era uma
pequena ponta que cresceu até atingir os exércitos dos céus, os palestinos,
ofendendo até o Príncipe do exército (Deus), dele tirando o sacrifício
costumeiro por causa das transgressões (v. 12). O templo ficou fechado por duas
mil e trezentas tardes e manhãs, de 171-165 a.C., nos dias de Antíoco III, o
Grande, e o seu sucessor Antíoco IV, o Epifânio (ver Mat. 24:15).
Mesquita ainda traz o desfecho da história que
inclui Israel e os Antíocos:
... e uma família, a
dos asmonianos, se refugiou nas montanhas e desafiou o poder dos selêucidas.
Dessa família nasceu o movimento apelidado de "Macabeu", em que a
família asmoniana enfrentou o poder dos Antíocos ou dos Selêucidas, desde 167
até 163, quando conseguiram fazer proclamar a independência da Palestina sob um
governo nacional. A dinastia de Davi foi assim restaurada, mas por pouco tempo,
também porque as intrigas e invejas entre os próprios judeus fizeram com que os
romanos, a este tempo já com seus exércitos nos arredores da Palestina,
interviessem para apaziguar a contenda, mas com a mão de gato, para pouco
depois anexarem a Palestina aos seus muitos domínios. O tempo do fim (ou último
tempo da ira, v. 19) não se refere ao fim de tudo, mas ao fim das assolações
dos Antíocos.
...
O templo foi depois
purificado pelos Macabeus, que ressuscitaram todo o cerimonial antigo com
grande pompa, o qual bem poderia ter durado muitos anos, mas as fraquezas dos
homens, a sua ambição, não têm medidas, e sacrificam até os mais caros
interesses nacionais e religiosos. Foi isso que aconteceu com os judeus.
Livraram-se dos Antíocos...
Por Fernando José.
Textos
Complementares 1
“Os escritores proféticos do Velho Testamento
lidavam com o povo em forma de tese, ensinos a respeito da conduta do povo.
Daniel lidava com realidades concretas do futuro, realidades que se projetariam
na história de diversos povos com que o seu mesmo povo estava envolvido.” (Antônio
Neves Mesquita)
Textos
Complementares 2
Deus lhe tornou patentes todas essas coisas, e ele
as deixou por escrito para serem admiradas pelos que lhe vissem os efeitos,
para mostrar os favores que recebera dEle e para confundir os erros dos
epicureus, que, em vez de adorarem a Providência, dizem que Ele não se importa
com os interesses deste mundo e que a terra não é conservada nem governada por
essa suprema Essência, igualmente bem-aventurada, incorruptível e onipotente,
mas subsiste por si mesma. Se eles considerassem verdade o que dizem,
ver-se-iam logo perecendo como um navio que, não tendo piloto, é batido pela
tempestade ou como um carro sem condutor, que é arrastado pelos cavalos. Pois
se tudo o que acontece no mundo é por acaso, como explicar o cumprimento de
todas essas profecias? (Flavio Josefo)
Textos
Complementares 3
... e de sua
posteridade viria um rei que faria guerra aos judeus, aboliria todas as suas
leis e toda a forma de sua república, saquearia o Templo e durante três anos
proibiria que ali se oferecessem sacrifícios. Isso tudo aconteceu sob o reinado
de Antíoco Epifânio. (Flavio Josefo)
Referências:
Bíblia
Online, Disponível em www.bibliaonline.com.br , acessado
pela última vez em 27/11/14
Lições
Bíblicas CPAD - 4° Trimestre de 2014: Integridade Moral e Espiritual — O legado
do livro de Daniel para a Igreja hoje.
Comentário Bíblico Moody.
JOSEFO, Flavio. História dos Hebreus - De Abraão à
queda de Jerusalém. 8ª edição, CPAD - Rio de Janeiro, RJ: 2004.
MESQUITA, Antonio Neves - Estudos no livro de
Daniel (Rio de Janeiro, novembro de 1975).
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