RICHARDSON, Don. O Fator Melquisedeque: o testemunho de Deus nas culturas através do mundo (3ª edição revisada, Vida Nova: 2008 - Tradução de Neide Siqueira). Título original: Eternit in their hearts.
O livro tem um conteúdo puramente missiológico - e porque não dizer que também é antropológico em suas páginas? - utiliza histórias verídicas da literatura religiosa e cultural dos povos mostrando que Deus dá testemunho de sua soberania, deixando rastros de sua revelação, no decorrer dos tempos, e isso com relação aos povos de diversas tribos e nações.
Em O fator Melquisedeque, Don Richardson tenta interligar o que Deus revelou de forma geral (fator Melquisedeque) com a revelação especial (fator Abraão), mostrando que os mesmos fatores mesclam-se entre os povos no desenrolar da história. O autor mostra, logo de início, que Deus manifesta-se, desde a antiguidade, em meio aos ‘pagãos’, citando exemplos com base histórica a começar de duas narrações tradicionais: os atenienses (Epimênides apresenta um Deus desconhecido) e os cananeus (Melquisedeque encontrando-se com Abrão fala sobre um Deus que ele representa: o Deus Altíssimo, que é o mesmo Javé do pai da fé). Logo após, Don Richardson cita sistemas de fé singulares e diversos dentro das inúmeras sociedades do mundo, que possuem tradições antigas que acentuam com o Evangelho a exemplo dos incas, santal, gedeo, mbaka, etc.
Vemos um exemplo impressionante de crença referente aos chineses e coreanos, onde vemos vestígios do Deus desconhecido, que eles chamavam de Shang-Ti/Hananim (o Senhor do Céu), que foi considerado o único objeto de fé antes dos sistemas filosóficos ou qualquer religião serem estabelecidos (Confucionismo, Taoísmo, Budismo...). Deixaram o Senhor do Céu gradualmente enquanto desenvolviam-se ensinos como forma de preencher o espaço vazio; esses ensinos referiam-se à melhoria de vida na terra, humanismo, magia, misticismo, celibato, inacessibilidade a Deus – pois o contato com o Deus do céu ficaria a cargo do intercessor deles, o imperador. Implantaram a base para a prática da adoração das divindades, indo de encontro ao que Gautama (que era indiano) pregava. Mas, apesar do afastamento, a memória de Shang-Ti/Hananim, com o passar do tempo, é mais uma vez testemunhada e reinterada pelos emissários cristãos, que por falta de conhecimento quanto à cultura e daquele sistema de fé, fizeram exposição da revelação de forma errada, errando o alvo. Mesmo assim, em meio às confusões e inconveniências, houve progresso nas missões protestantes!
Outro ponto a ser observado em O fator Melquisedeque e que é abordado de forma grandiosa é o uso da estratégia concernente à identificação de Deus, de forma clara, para os pagãos – algo que vem sendo usado desde os primórdios. Don Richardson deixa evidente que Deus atinou a percepção espiritual dos impérios e povos antigos deixando vestígios da sua universalidade, perfeição, luz e poder, de forma a preparar os grupos remotos para a recepção futura do Evangelho, cabendo ao missionário experimentar o fenômeno – peculiar em cada cultura - com sabedoria, estudo e postura definida, a fim de evitar falsidades e distorções que desvie a mensagem e embarace o mensageiro. O evangelista agirá compreendendo os aspectos relativos ao contexto cultural e espiritual de um povo, compreendendo o sentido das tradições, ajustando-se as necessidades, sabendo que o evangelho não anula, e sim cumpre os componentes redentores de ilhares de outras culturas.
Mais uma história descreve as semelhanças entre a tradição antiga - religiosa e popular – dos Karen e o conceito e o conceito de Deus único impresso no Livro Sagrado. Há um paralelo entre o ensino dos Karen e o padrão das Escrituras: Deus, o Criador (Y’wa), a serpente (Mu-aw-lee), Adão (Tha-nai), Eva (Ee-u), nats (demônios)...!
No demais, os sistemas de fé dentro das inúmeras sociedades do mundo, de alguma forma, exaltam ao Criador, através de hinos e de suas tradições que falam sobre o povo que experimenta o distanciamento de Deus e a situação aflitiva ocasionada pela transgressão, apresentando costumes bíblicos, buscando o livro perdido, fazendo reuniões - ainda que não muito claras - para adorar o Deus verdadeiro, praticando guerra à idolatria, utilizando provérbios que fazem convocação a honrar os pais, o amor a Deus e ao próximo, arrependimento, perdão, oração... Expressando a escolha divina e o seu amor por uma nação em particular, a esperança e a volta final do Deus sublime e, para muitos, desconhecido!
Por Fernando José.
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